Prevalência de Enterobacterales isoladas em amostras de hemoculturas de pacientes em um hospital privado de Juiz de Fora-MG

Prevalence of Enterobacterales isolated from patient blood culture samples in a private hospital in Juiz de Fora-MG

 

Adrielli Alves Carneiro1
Patrícia Guedes Garcia2
Patrícia Ganimi Tavella3

 

1   Microbiologista/Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde-SUPREMA. Juiz de Fora, MG, Brasil.

2   Doutora em Saúde Coletiva/Universidade Federal de Juiz de Fora-UFJF. Juiz de Fora, MG, Brasil.

3   Especialista/Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus – (Farmacêutica). Juiz de Fora, MG, Brasil.

 

Recebido em 24/04/2020

Aprovado em 02/03/2022

DOI: 10.21877/2448-3877.202201985

 

 

INTRODUÇÃO

 

O termo sepse é caracterizado por uma resposta inflamatória sistêmica exacerbada com disfunção orgânica, desencadeada por reação inadequada do organismo frente à um agente agressor.(1,2,3)

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2010), a hemocultura é o exame padrão-ouro para o diagnóstico de sepse, no entanto, por ser um exame longo e pela clínica inespecífica, faz-se necessário o início de terapias empíricas.(4,5) Contudo, regimes terapêuticos inadequados induzem pressão seletiva, resultando no aumento de cepas resistentes, elevação dos custos de hospitalização e maiores taxas de mortalidade, especialmente em pacientes críticos.(6,7,8,9,10,20)

No Brasil, aproximadamente um terço dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) é ocupado por pacientes com sepse, resultando em cerca de 420 mil casos por ano, dos quais aproximadamente 50% evoluem para óbito. Como consequência, observa-se um custo de 17,3 milhões de reais por ano, tornando tal comorbidade um desafio global e um problema de saúde pública.(1)

Bactérias Gram-negativas pertencentes à ordem Enterobacterales estão associadas a vários tipos de infecções, desde uma infecção urinária branda até sepse com alto grau de letalidade. Esses microrganismos estão se tornando uma ameaça devido à alta capacidade de adquirir resistência aos antibióticos atuais, entre eles as cefalosporinas, através da produção de β-lactamases de Espectro Estendido (ESBL).(6,11,13)

Perante o exposto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a prevalência de Enterobacterales isoladas em amostras de hemoculturas de pacientes das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) adulto e neonatal e Unidade Coronariana (UC) de um hospital privado da cidade de Juiz de Fora – MG e avaliar o perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos das cepas de enterobactérias prevalentes, contribuindo assim com pesquisas na área de prevenção de sepse, além do incentivo ao Uso Racional de Medicamentos.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

O presente estudo é de natureza descritiva, do tipo retrospectivo transversal, e teve por objetivo analisar amostras de hemoculturas realizadas no laboratório de análises clínicas de um hospital privado localizado na cidade de Juiz de Fora-MG, no período de janeiro de 2017 a janeiro de 2019.

Como critério de inclusão considerou-se todas as amostras de hemoculturas positivas para microrganismos pertencentes à ordem Enterobacterales. Os dados que fazem parte da pesquisa foram obtidos através dos arquivos digitais do software laboratorial Shift Lis® utilizado pelo Laboratório. Por se tratar de uma análise estatística de dados de exames já realizados, esta pesquisa representa riscos mínimos aos pacientes, porém significativos em relação à manipulação dos dados digitais.

Esse estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética Institucional de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sob o parecer número 3.735.713.

As hemoculturas incluídas foram detectadas de forma automatizada pelo aparelho BACT/ALERT® 3D 60 da empresa bioMérieux, com posterior identificação e antibiograma no sistema VITEK® 2 compact da mesma empresa, com os cartões de identificação GN para Gram-negativos fermentadores com cartões de antibiograma AST-N238 e AST-N239.(12)

 

RESULTADOS

 

Foram coletadas 3.535 amostras de hemoculturas provenientes das UTIs e UC no período de dois anos, sendo 2.591 (73,3%) da UTI Adulto, 539 (15,2%) da UTI Neonatal e 405 (11,5%) da UC. Do total de amostras coletadas, 1.071 (30,3%) apresentaram crescimento positivo, das quais 237 (22,1%) eram Enterobacterales e contemplaram o presente estudo.

Na UTI Adulto, 866 amostras positivaram, as quais correspondem a 80,9% do total de amostras incluídas no estudo, sendo, dessas, 199 (84%) da ordem Enterobacterales. O restante das amostras que preencheram o critério de inclusão, foi proveniente da UC (112/10,4%) e UTI Neonatal (93/8,7%), sendo, respectivamente, 17 (7,2%) e 21 (8,8%) amostras com crescimento de enterobactérias.

De acordo com a Tabela 1, as enterobactérias prevalentes na UTI adulto foram: Klebsiella pneumoniae (31,7%), Serratia marcescens (25,7%), Escherichia coli (19,1%) e Enterobacter cloacae (6,0%).

De acordo com a Tabela 2, as enterobactérias prevalentes na unidade coronariana foram: Klebsiella pneumoniae (35,3%), Escherichia coli (23,4%) e Enterobacter cloacae (11,8%).

De acordo com a Tabela 3, as enterobactérias prevalentes na UTI neonatal foram: Klebsiella pneumoniae (47,6%) e Enterobacter cloacae (38,0%).

Ao analisar as Tabelas 1, 2 e 3 concomitantemente, percebeu-se a prevalência de crescimento dos mesmos microrganismos nas UTIs e UC. São eles: Klebsiella pneumoniae (33,3%), Serratia marcescens (21,9%), Escherichia coli (18,1%) e Enterobacter cloacae (9,3%). Sendo assim, tais microrganismos foram escolhidos para o estudo de suscetibilidade (Tabelas 4, 5, 6 e 7).

 

Tabela 1 – Prevalência de enterobactérias na UTI adulto

  n=199/100%
Klebsiella pneumoniae 63 31,7%
Serratia marcescens 51 25,7%
Escherichia coli 38 19,1%
Enterobacter cloacae 12 6,0%
Proteus mirabilis 9 4,5%
Enterobacter aerogenes 8 4,0%
Providencia stuartii 4 2,0%
Morganella morganii 3 1,5%
Grupo Salmonella 3 1,5%
Klebsiella oxytoca 2 1,0%
Citrobacter braaki 2 1,0%
Citrobacter koserii 1 0,5%
Enterobacter asboriae 1 0,5%
Serratia fonticola 1 0,5%
Serratia rubidaea 1 0,5%

Fonte: elaborada pelos autores.

Tabela 2 – Prevalência de enterobactérias na Unidade Coronariana

  n=17 /100%
Klebsiella pneumoniae 6 35,3%
Escherichia coli 4 23,4%
Enterobacter cloacae 2 11,8%
Enterobacter gergoviae 2 11,8%
Serratia marcescens 1 5,9%
Proteus mirabilis 1 5,9%
Citrobacter freudii 1 5,9%

Fonte: elaborada pelos autores.

Tabela 3 – Prevalência de enterobactérias na UTI neonatal

  n=21/100%
Klebsiella pneumoniae 10 47,6%
Enterobacter cloacae 8 38,0%
Escherichia coli 1 4,8%
Proteus mirabilis 1 4,8%
Serratia rubidaea 1 4,8%

Fonte: elaborada pelos autores.

Tabela 4 – Perfil de suscetibilidade Klebsiella pneumoniae

  R I S
AMI 10/79 (16,7%)   69/79 (87,3%)
AMC     3/3 (100,0%)
NAL     3/3 (100,0%)
AMP 79/79 (100,0%)    
CFL     3/3 (100,0%)
CIP 47/79 (59,5%) 3/79 (3,8%) 29/79 (36,7%)
CPM 57/79 (72,1%) 1/79 (1,3%) 21/79 (26,6%)
CRO 57/79 (72,1%)   22/79 (27,9%)
CRX 59/79 (74,7%)   20/79 (25,3%)
ERT     40/40 (100,0%)
GEN 19/79 (24,0%) 1/79 (1,3%) 59/79 (74,7%)
MER 40/79 (50,6%)   39/79 (49,4%)
NOR     3/3 (100,0%)
NIT   2/3 (66,7%) 1/3 (33,3%)
PPT 48/79 (60,8%) 11/79 (13,9%) 20/79 (25,3%)
SUT     3/3 (100,0%)
SBA 61/76 (77,2%)   15/76 (22,8%)
CAZ 59/76 (74,7%)   17/76 (25,3%)
CFO 38/75 (50,7%) 1/75 (1,3%) 36/75 (48,0%)
IPM 40/76 (52,6%) 1/76 (1,4%) 35/76 (46,0%)
TIG     46/46 (100,0%)
COL 2/78 (2,6%)   76/78 (97,4%)

Fonte: elaborada pelos autores.

Legenda: R – Resistente; I – Intermediário; S – Sensível

AMI – Amicacina; AMC – Amoxicilina com clavulanato; AMP – Ampicilina; COL – Colistina; CFL – Cefalotina; CIP – Ciprofloxacino; CPM – Cefepime; CAZ – Ceftazidima; CFO – Cefoxitina; CRO – Ceftriaxona; CRX – Cefuroxima; ERT – Ertapenem; GEN – Gentamicina; IPM – Imipenem; MER – Meropenem; NAL – Ácido nalidíxico; NOR – Norfloxacino; NIT – Nitrofurantoína; PPT – Piperacilina com tazobactam; SUT – Sulfametoxazol com trimetoprim; SBA – Ampicilina com sulbactam; TIG – Tigeciclina.

 

No teste de suscetibilidade aos antimicrobianos, os microrganismos identificados como Klebsiella pneumoniae apresentaram elevada resistência às cefalosporinas (73,4%), seguida dos carbapenêmicos imipenem (52,6%) e meropenem (50,6%), e sensibilidade à tigeciclina (100,0%) e colistina (97,4%), como observou-se na Tabela 4.

Tabela 5 – Perfil de suscetibilidade Escherichia coli

  R I S
AMI     43/43 (100,0%)
AMC     4/4 (100,0%)
NAL 2/4 (50,0%)   2/4 (50,0%)
AMP 26/43 (60,5%)   17/43 (39,5%)
CFL 2/4 (50,0%)   2/4 (50,0%)
CIP 21/43 (48,8%)   22/43 (51,2%)
CPM 11/43 (25,6%)   32/43 (74,4%)
CRO 15/43 (34,9%)   28/43 (27,9%)
CRX 15/43 (34,9%) 7/43 (16,3%) 21/43 (48,8%)
ERT     43/43 (100,0%)
GEN 8/43 (18,6%)   35/43 (81,4%)
MER     43/43 (100,0%)
NOR 2/4 (50,0%)   2/4 (50,0%)
NIT     4/4 (100,0%)
PPT 2/43 (4,6%)   41/43 (95,4%)
SUT 2/4 (50,0%)   2/4 (50,0%)
SBA 20/39 (51,3%) 4/39 (10,3%) 15/39 (38,4%)
CAZ 11/39 (28,2%) 2/39 (5,1%) 26/39 (66,7%)
CFO 4/39 (10,3%) 2/39 (5,1%) 33/39 (84,6%)
IPM     39/39 (100,0%)
TIG     39/39 (100,0%)
COL     41/41 (100,0%)

Fonte: elaborada pelos autores.

Legenda: R – Resistente; I – Intermediário; S – Sensível

AMI – Amicacina; AMC – Amoxicilina com clavulanato; AMP – Ampicilina; COL – Colistina; CFL – Cefalotina; CIP – Ciprofloxacino; CPM – Cefepime; CAZ – Ceftazidima; CFO – Cefoxitina; CRO – Ceftriaxona; CRX – Cefuroxima; ERT – Ertapenem; GEN – Gentamicina; IPM – Imipenem; MER – Meropenem; NAL – Ácido nalidíxico; NOR – Norfloxacino; NIT – Nitrofurantoína; PPT – Piperacilina com tazobactam; SUT – Sulfametoxazol com trimetoprim; SBA – Ampicilina com sulbactam; TIG – Tigeciclina.

 

De acordo com a Tabela 5, os antibióticos com maior perfil de resistência para o microrganismo Escherichia coli foram pertencentes à classe das quinolonas (49,6%). Além disso, encontrou-se um alto perfil de sensibilidade perante a maioria dos antibióticos testados.

Das 237 enterobactérias isoladas, 14,4% (34/237) apresentaram mecanismo de resistência do tipo β-lactamase de espectro estendido (ESBL). Dessas, 73,5% (25/34) eram Klebsiella pneumoniae e 26,5% (9/34) Escherichia coli. Sendo assim, vê-se que 31,6% das cepas de Klebsiella pneumoniae e 20,9% das cepas de Escherichia coli produziram ESBL.

 

Tabela 6 – Perfil de suscetibilidade Serratia marcescens

  R I S
AMI 34/52 (65,4%) 5/52(9,6%) 13/52 (25,0%)
AMC 5/5 (100,0%)    
NAL 5/5 (100,0%)    
CFL 5/5 (100,0%)    
CIP 20/52 (38,5%) 17/52 (32,7%) 15/52 (28,8%)
CPM 45/52 (86,5%)   7/52 (13,5%)
CRO 45/52 (86,5%)   7/52 (13,5%)
CRX 52/52 (100,0%)    
ERT     7/7 (100,0%)
GEN 6/52 (11,5%)   48/52 (88,5%)
MER 45/52 (86,5%)   7/52 (13,5%)
NOR 1/5 (20,0%)   4/5 (80,0%)
NIT 5/5 (100,0%)    
SUT 1/5 (20,0%)   4/5 (80,0%)
CAZ 40/47 (85,1%)   7/47 (14,9%)
CFO 47/47 (100,0%)    
IPM     2/2 (100,0%)
TIG     21/21 (100,0%)
COL 47/47 (100,0%)    

Fonte: elaborada pelos autores.

Legenda: R – Resistente; I – Intermediário; S – Sensível

AMI – Amicacina; AMC – Amoxicilina com clavulanato; COL – Colistina; CFL – Cefalotina; CIP – Ciprofloxacino; CPM – Cefepime; CAZ – Ceftazidima; CFO – Cefoxitina; CRO – Ceftriaxona; CRX – Cefuroxima; ERT – Ertapenem; GEN – Gentamicina; IPM – Imipenem; MER – Meropenem; NAL – Ácido nalidíxico; NOR – Norfloxacino; NIT – Nitrofurantoína; SUT – Sulfametoxazol com trimetoprim; TIG – Tigeciclina.

 

Tabela 7 – Perfil de suscetibilidade Enterobacter cloacae

  R I S
AMI   1/22 (4,5%) 21/22 (95,5%)
AMC 1/1 (100,0%)    
NAL     1/1 (100,0%)
CFL 1/1 (100,0%)    
CIP   2/22 (9,1%) 20/22 (90,9%)
CPM 7/22 (31,8%)   15/22 (68,2%)
CRO 7/22 (31,8%)   15/22 (68,2%)
CRX 22/22 (100,0%)    
ERT     18/18 (100,0%)
GEN 6/22 (27,3%)   16/22 (72,7%)
MER 4/22 (18,2%)   18/22 (81,8%)
NOR     1/1 (100,0%)
NIT     1/1 (100,0%)
PPT 5/22 (22,7%) 2/22 (9,1%) 15/22 (68,2%)
SUT     1/1 (100,0%)
CAZ 6/21 (28,6%) 1/21 (4,7%) 14/21 (66,7%)
CFO 21/21 (100,0%)    
IPM 4/21 (19,0%) 3/21 (14,3%) 14/21 (66,7%)
TIG     20/20 (100,0%)
COL     21/21 (100,0%)

Fonte: elaborada pelos autores.

Legenda: R – Resistente; I – Intermediário; S – Sensível

AMI – Amicacina; AMC – Amoxicilina com clavulanato; COL – Colistina; CFL – Cefalotina; CIP – Ciprofloxacino; CPM – Cefepime; CAZ – Ceftazidima; CFO – Cefoxitina; CRO – Ceftriaxona; CRX – Cefuroxima; ERT – Ertapenem; GEN – Gentamicina; IPM – Imipenem; MER – Meropenem; NAL – Ácido nalidíxico; NOR – Norfloxacino; NIT – Nitrofurantoína; SUT – Sulfametoxazol com trimetoprim; TIG – Tigeciclina.

 

Os microrganimos identificados como Serratia marcescens apresentaram resistência às cefalosporinas de todas as gerações (cerca de 90,0%) e também ao meropenem (86,5%). Em contrapartida, de acordo com a Tabela 6, 100% das cepas testadas foram sensíveis à tigeciclina.

Em relação às cepas de Enterobacter cloacae, pôde-se observar através da Tabela 7, maior resistência à cefoxitina (100,0%) e cefuroxima (100,0%). Já antibióticos como colistina e tigeciclina apresentaram 100,0% de sensibilidade nas cepas estudadas.

 

DISCUSSÃO

 

Em um estudo realizado por Rodriguéz et al. (2011),(17) dentre as hemoculturas analisadas, cerca de 35% eram positivas e 65%, negativas. Segundo Chen et al. (2015)(16) e Weiss et al. (2016),(15) a proporcionalidade das hemoculturas apresentou um resultado similar, onde a taxa de positividade varia entre 10% e 30%. Desse modo, é possível afirmar que os resultados obtidos no presente estudo foram compatíveis, uma vez que 30,3% das hemoculturas tiveram resultado positivo para o crescimento de algum microrganismo e 69,7% negativo.

Os bacilos Gram-negativos pertencentes à ordem Enterobacterales prevalentes encontrados no presente estudo foram: Klebsiella pneumoniae, Serratia marcescens, Escherichia coli e Enterobacter cloacae. Essa prevalência foi semelhante à reportada por Mota et al. (2018),(14) que encontrou Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli, Enterobacter cloacae, Klebsiella aerogenes, Proteus mirabilis e Serratia marcescens.

Segundo Durdu et al. (2016),(19) cepas de Klebsiella pneumoniae isoladas de hemoculturas apresentaram o seguinte perfil de resistência: meropenem 41,6%, piperacilina-tazobactam 74,2%, ceftazidima 89,5%, cefepime 90,5% e ampicilina/sulbactam 92,6%. Esse perfil de resistência se repete no estudo em questão com relação aos mesmos antibióticos.

Entre os isolados de Escherichia coli no sangue, de acordo com Mota et al. (2018),(14) a taxa de resistência variou entre 50% a 70% para ampicilina e ciprofloxacina, 30% a 40% para ácido nalidíxico, trimetropim/sulfametoxazol, norfloxacina, cefuroxima, ceftriaxona, cefepime e cefalotina.

Quanto às cepas produtoras de β-lactamase de espectro estendido (ESBL), Chang et al. (2020)(11) mostraram em estudo uma porcentagem de cerca de 20,0%, com predominância de enterobactérias identificadas como Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli. Além disso, Myat et al. (2017)(18) encontraram em seu estudo que 43,0% das cepas de Klebsiella pneumoniae e 50,0% das cepas Escherichia coli eram produtoras de ESBL. Ambas pesquisas são semelhantes aos dados levantados no presente estudo. De acordo com Perianes-Díaz et al. (2014),(22) as sepses por Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae produtoras de ESBL estão ligadas a um alto risco de mortalidade e readmissão hospitalar, sendo o tratamento empírico o principal fator associado a um mau desfecho.

Além disso, Restrepo-Álvarez et al. (2019)(21) justifica a terapia empírica com piperacilina/tazobactam para sepses causadas por Escherichia coli com a alta sensibilidade desse medicamento frente a esse microrganismo (cerca de 90,0%) e também pela significativa resistência à ampicilina/sulbactam (cerca de 60,0%). A suscetibilidade desses antimicrobianos se confirma no estudo.

No que diz respeito à Serratia marcescens, viu-se que a mesma apresentou elevada resistência a diversos antimicrobianos, entre eles as cefalosporinas de todas as gerações (cerca de 80,0%), amicacina (65,4%) e meropenem (86,5%), mostrando assim multirresistência. Através do estudo de Domínguez et al. (1990)(23) essa resistência se assemelha, uma vez que foram encontrados 98% das cepas de Serratia marcescens resistentes à cefalotina e 78% à ampicilina.

Haddy et al. (1991)(24) relataram que cerca de 80,0% das espécies de Enterobacter spp. mostraram sensibilidade aos aminoglicosídeos e resistência à ampicilina, cefalosporinas de primeira geração e cefoxitina. No estudo em questão, os testes de suscetibilidade se confirmam.

Segundo Al Mayahi et al. (2019),(25) vale ressaltar que microrganismos resistentes à múltiplas drogas têm sido de preocupação mundial, uma vez que o número de casos com resistência à colistina vem aumentando substancialmente. No estudo em questão foi observado resistência à colistina de 2,6% em cepas de Klebsiella pneumoniae.

 

CONCLUSÃO

 

O estudo revelou número significante de bactérias da ordem Enterobacterales e um perfil de resistência elevado, uma vez que há um crescente aumento na porcentagem de microrganismos com produção de ESBL. Tal fato alerta e incentiva o uso racional de medicamentos.

O aumento de cepas multirresistentes se torna preocupante, uma vez que a resistência à colistina tem começado a aparecer no cenário mundial, desafiando as práticas de controle de infecção e exigindo investigação completa de surtos.

Novas drogas e novas medidas de controle se fazem necessárias, tendo em vista que a crescente resistência tornou-se um problema de saúde pública.

 

REFERÊNCIAS

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Correspondência

Patrícia Ganimi Tavella

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