RBAC online: Navegando em novas águas

RBAC online: Navigating new Waters

 

Em 1851, Joseph Henry previu: “A humanidade tem seu progresso baseado em pesquisa, estudo e investigação, que geram saber, conhecimento ou, simplesmente, informação. E, praticamente, para cada item de interesse, existe algum registro de saber pertinente. A não ser que toda essa massa de informação seja armazenada de forma ordenada e que sejam especificados, corretamente, os meios em que serão divulgados os respectivos conteúdos, tanto a literatura quanto a ciência perecerão esmagadas sob seu próprio peso“.(1)

Segundo Cruz et al.,(2) a previsão de Joseph Henry acabou sendo confirmada pelo enorme crescimento e profusão de publicações científicas que ocorreram no século passado onde, inicialmente, contabilizavam-se cerca de 10 mil títulos em formato impresso e, atualmente, contabilizam-se milhões de revistas que utilizam vários suportes, em especial, o eletrônico.

Em 1973, Sondak & Schwarz foram os primeiros a conceber a ideia de um periódico em formato eletrônico. A proposta inicial desses autores era fornecer arquivos que pudessem ser lidos em bibliotecas, empregando computadores, e, por assinantes individuais, utilizando microfichas.(2) A primeira revista científica em versão eletrônica foi a Online Journal of Current Clinical Trials, publicada em 1992, pela OCLC [Online Computer Library Center], em Ohio, Estados Unidos, com textos completos e gráficos. A SciELO foi a primeira iniciativa de acesso eletrônico aberto, em países em desenvolvimento, iniciada em 1997, no Brasil, com a publicação de dez títulos de revistas, quatro da área da saúde.(3)

De maneira geral, pesquisadores consultam revistas científicas para uma atualização em suas áreas de estudo e para aplicação dos conteúdos em suas próprias pesquisas e no ensino de suas disciplinas. Na realidade, artigos científicos são lidos com muito mais frequência do que qualquer outro tipo de publicação no mundo. Pesquisadores e estudantes podem atingir a média de 188 artigos lidos por ano. Um artigo pode alcançar o número médio de 500 a 1.500 leituras/consultas, dependendo do campo da ciência. Dessa forma, uma revista científica de peso editorial pode ter bem mais de 100 mil consultas, levando-se em conta a forma tradicional de divulgação científica.(4)

Com as novas tecnologias de hipermídia, a informação científica assume, quanto à sua difusão e replicação, possibilidades quase que inimagináveis. Potencialmente, essas tecnologias facilitam e popularizam o acesso à pesquisa, estimulam a multiplicação das fontes de informação e diminuem as imposições da necessidade de espaço.(5)

De fato, conforme Castro,(3) o fluxo de comunicação científica tradicional, estruturado em etapas consecutivas e interdependentes, com um prolongado tempo entre cada uma dessas etapas, com as novas tecnologias de informação, passou a ser realizado no ambiente virtual, sem restrições temporais e físicas. A dinâmica de transmissão de informação e de publicação na Internet permitiu que as ações se sucedessem de forma concomitante e não mais em intervalos regulares.

De acordo também com Castro,(3) a publicação eletrônica de revistas científicas permitiu que os artigos passassem a estar disponíveis quase que imediatamente após aprovação pelos editores. Essa modalidade de publicação contribuiu para aumentar a visibilidade dos resultados das pesquisas e diminuir o tempo entre a aprovação dos trabalhos e sua publicação em formato impresso. Fundamentalmente, o artigo científico passou a ser uma unidade informacional independente.

Marcondes(6) afirma que a comunidade científica tem visto as publicações eletrônicas na Rede como um efetivo e adequado meio para por em evidência e disseminar os resultados de suas pesquisas, bem como para promover e acelerar o avanço da ciência e da tecnologia. Em decorrência disso, tem sido observado, no grupo de pesquisadores e estudantes, uma forte tendência para a criação e desenvolvimento de periódicos eletrônicos, inclusive com migração total da modalidade impressa para a virtual.

Corroborando com essa ideia, Rogers (7) observou que mais da metade do corpo docente e discente de pós-graduações de universidades americanas utilizam, preferencialmente, os periódicos eletrônicos, e quase dois terços desses consideram importante que as bibliotecas universitárias substituam as assinaturas impressas por aquelas eletrônicas, tendo em conta a disponibilidade da informação, a facilidade de uso e a qualidade dos conteúdos.

Não há dúvidas de que a utilidade e o valor da informação disponibilizada pelas revistas científicas são elevados para quaisquer padrões de uso. Assim sendo, é categórico que a passagem da informação do periódico em papel para o modelo virtual mantenha ou aumente os atributos de comunicação, continuando a servir a todos os padrões de uso e busca e conduzindo a resultados sempre positivos à comunidade científica.(8)

De acordo com Sabbatini,(8) a usabilidade dos recursos eletrônicos tem produzido uma mudança importante e majoritária na manipulação e gestão da informação científica, por parte dos interessados. Tem sido demonstrado que o acesso à rede para recuperação dessa informação tem assumido um caráter de grande relevância. O acesso a partir da mesa de trabalho, a atualidade da informação, a facilidade de se capturarem os artigos e os métodos avançados de localização, além de produzirem grande aceitação à modalidade online, têm determinado, ao mesmo tempo, uma enorme resistência em relação ao formato impresso. Essa tendência pode ser confirmada, inequivocadamente, quando se toma como base o caso das revistas publicadas em países da América Latina e indexadas na base de dados LILACS, cuja porcentagem de publicações eletrônicas passou de 18% para 78%.(3)

A publicação eletrônica surge também, modernamente, como uma promessa de diminuição dos custos em relação ao acesso à informação, pois grande parte dos periódicos eletrônicos já disponibiliza seus conteúdos de forma completa e gratuita na Internet, para os leitores. A adoção de periódicos eletrônicos contribui, igualmente, para os editores, com a redução dos custos de publicação e distribuição, quando se compara com a modalidade impressa.(9)

Considerando o exposto, a Revista Brasileira de Análises Clínicas (RBAC) pega também carona com a tecnologia e entra na era digital, com sua versão online. Com esse novo veículo, esperamos aumentar a visibilidade da RBAC, permitindo que os sócios da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e os interessados nas análises clínicas, em todo o país, possam usufruir dos conteúdos publicados na revista. Na versão online, a RBAC passa a ser também acessível em diversos países do mundo, permitindo que outras culturas tomem conhecimento sobre o que se produz, em termos de ciência, na área das análises clínicas, no Brasil.

Segundo Santos,(10) o conhecimento científico é um bem público e, portanto, deve estar disponível a todos, sem restrição, em qualquer tempo e lugar. Como uma revista online aberta, o acesso à RBAC será democratizado. Isso, além de torná-la amplamente conhecida, pois um maior número de pessoas poderá ler e acessar os artigos de forma instantânea e simultânea, aumentará consideravelmente sua esfera de influência. Assim, esperamos que os artigos publicados na RBAC tenham maior impacto e sejam citados com mais frequência. Artigos de acesso aberto, conforme Eysenbach,(11) têm o dobro de citações, o que, sem dúvida alguma, eleva a importância das revistas.

No que concerne ao processo editorial, a RBAC em sua versão online trará maior celeridade em sua produção e distribuição, disseminando a informação científica de forma mais rápida, eficiente e com maior qualidade. Os custos da revista também diminuirão. De acordo com Barravieira,(12) editorações eletrônicas facilitam a ordenação, a otimização e trazem economia a todo o processo de publicação.

O objetivo da mudança para a versão online é claro: tornar a RBAC uma revista moderna e dinâmica, alinhada com os recursos da tecnologia de informação e da internet/web, para trazer, de fato, a democratização de seus conteúdos, velocidade de publicação, visibilidade e impacto nacional e internacional, competitividade, cooperação técnico-científica e, acima de tudo, contribuir com o desenvolvimento das análises clínicas no país, tanto científica quanto socialmente. Assim, com o presente número, damos os primeiros passos no ambiente virtual. Desejamos que todos, pesquisadores, estudantes, analistas clínicos e interessados no estudo das análises clínicas tenham uma leitura prazerosa e frutífera, agora na versão online da RBAC.

 

Referências

  1. Smithsonian Institution. Sixth Annual Report of the Board of Regents of the Smithsonian Institution, to Senate and House of Representatives, showing the operations, expenditures, and condition of the Institution, during 1851, and the Proceedings of Board of Regents up to Date. Washington, 1852. Disponível em: http://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=chi.16310099; view=1up;seq=1. Acesso 03 abr. 2016.
  2. Cruz AAAC, Battaglia BB, Oliveira EBPM, Gabriel MA, Ferreira RCS, Prati SC. Impacto dos periódicos eletrônicos em bibliotecas universitárias. Ci. Inf. 2003;32(2):47-53.
  3. Castro RCF. Impacto da Internet no fluxo da comunicação científica em saúde. Rev. Saúde Pública. 2006;40 (N Esp):57-63.
  4. King DW, Tenopir C. A publicação de revistas eletrônicas: economia da produção, distribuição e uso. Ci. Inf. 1998;27(2):176-82.
  5. Macedo-Rouet M. Legibilidade de revistas eletrônicas de divulgação científica. Ci. Inf. 2003;32(3): 103-12.
  6. Marcondes CH. Documentos digitais e novas formas de cooperação entre sistemas de informação em C&T. Ci. Inf. 2002;31(3):42-54.
  7. Rogers SA. Electronic journal usage at Ohio State University. College and Research Libraries. 2001;13(3):177-86.
  8. Sabbatini M. Qualidade da informação nas publicações científicas electrônicas na Internet: desafios e propostas. [online]. Education in the knowledge society (EKS). 2, 2001. Disponível em: http://campus.usal.es/~teoriaeducacion/rev_ numero_02/n2_art_sabbatini.htm. Acesso em 03 abril 2016.
  9. Meirelles, RF. Implementação da Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal no Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas – SEER. VI Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Informação, 2005. Disponível em: http://www.cinform-anteriores.ufba.br/vi_anais/docs/RodrigoMeirelles.pdf. Acesso em 03 abr. 2016.
  10. Santos, S. SciELO – Vantagens e impacto das publicações eletrônicas em acesso aberto. SES-Oficina de Editores Científicos, 2009. Disponível em: http://www.eventos.bvsalud.org/agendas/oficinasessp/public/documents/SantosS-160051.pdf. Acesso em 03 abr. 2016.
  11. Eysenbach G. Citation Advantage of Open Access Articles. PLoS Biol 4(5): e157, 2006.
  12. Barravieira B. Publicação impressa versus eletrônica: vantagens e desvantagens em publicar. Conferência proferida no VIII Seminário de Pós-Graduação e V Encontro Internacional de Editores e Autores de Revistas Científicas da Área de Odontologia, 2007. Disponível em: http://www.barraviera.med.br/download_de_arquivos/down_05.htm. Acesso em 03 abr. 2016.

 

 

Paulo Murillo Neufeld, PhD

Editor-Chefe da Revista Brasileira de Análises Clínicas (RBAC)